Rita Ferro sobre O Pisa-papéis:
Permitam-me uma alusão familiar, raríssima neste meu tipo de prestação. António Ferro, meu avô, quando era jornalista, publicou uma vez um desenho de uma menina que se assinava Lena, acompanhado de um comentário rendido que terminava com o seguinte incentivo: «Quem desenha assim, aos treze anos, não deve deixar de trabalhar.» Não se enganou. O nome completo da jovem era Maria Helena Vieira da Silva e ficamos esclarecidos. Sessenta e sete anos depois, já o meu avô morrera, o meu pai passou por Paris, por ocasião de uma reunião da UNESCO, e foi expressamente a casa da pintora, no dia do seu 80.º aniversário, para lhe oferecer de presente esse velho recorte do DN. À conta disso tomaram um chá, passaram uma tarde agradável e fizeram-se amigos.Lembrei-me desta história quando terminei a da Vera. Não puxei pela cabeça, não forcei a analogia; foi uma associação que, simplesmente, cruzou o meu espírito como um cometa.O Pisa-papéis é uma história da vida, narrada com um humor subtil, uma desenvoltura surpreendente numa estreante e uma simplicidade desarmante, quase subversiva. Ao que tudo indica, a Autora, que também é solista na sua vida profissional, preferiu, para a sua primeira «audição», uma boa execução a um mau improviso.Trata-se de uma novela que, na sua irresistível desafectação, contém todos os elementos para se impor à empatia do público. Está lá tudo: o homem que se atreve a brincar com o amor, a mulher que espera, a amante que não sabe perder e até a obra que se afoga no rio para o escritor se poder salvar. Simplificar não é fácil, em literatura, e muitos confundem clareza com facilidade. Não é o caso: Vera, tal como Lena, não deve deixar de trabalhar.
(RITA FERRO, Estoril, 14 de Março de 2006)
O PISA-PAPÉIS
Autor: Vera Vê (pseud. de Vera de Vilhena)
Capa: © Nanã Sousa Dias
Género: Novela
Editor: DG Edições
Edição: Maio de 2006
Páginas: 163
Edição esgotada
A escrita e a publicação de um primeiro livro podem servir de embrião para um outro, aquele que na verdade pretendemos escrever, o qual só acontecerá mais tarde, quando a hora dele chega. A estreia em ficção, com esta modesta edição de autor, foi o prelúdio para um primeiro romance, ainda inédito. Tinha acabado de recuperar a visão após a cegueira, pelo que o pseudónimo "Vera Vê" foi um "piscar de olho" ao destino. Uma nova fase depois de um grande susto, antes de me tornar revisora (Vera Revê...?).
Nasceram novas amizades no âmbito da publicação deste livro - com Rita Ferro, autora do prefácio, e Daniel Gouveia, o editor.
O lançamento aconteceu no Casino do Estoril, onde eu trabalhava como cantora (2002-2008), por cortesia de Mário Assis Ferreira. A edição de 250 exemplares esgotou, entre a venda e as ofertas da praxe. Ficou a memória de uma boa experiência e estou grata a todos os que me incentivaram a não desistir.
(VERA DE VILHENA)