Adivinhas que tenho em gaveta, para partilhar com os pequenos leitores aqui, nas oficinas de escrita, ou num outro cantinho onde nos encontremos...
Gavetinhas, coisas vossas, coisas minhas
Adivinhas
ADIVINHA I
O meu corpo é moreno
Mas jamais encontra o sol
Estendo sobre meia terra
Um gigantesco lençol
As crianças, quando chego,
Fazem o seu ar tristonho
Está na hora de ir dormir
E aconchegar-lhes os sonhos
Nunca me sinto sozinha
Pois a companhia é rara
Infinitas são as estrelas
Que me salpicam a cara
Tão contrários são os dias
À minha própria existência
Sonham tantos junto a mim
A aliviar consciências.
Quem sou eu?
ADIVINHA II
Tenho um cheiro adocicado
E nunca ando sozinho
Logo atrás de mim vem outro
Se for bom ainda é pouco
As avós gostam de mim
E os netos mais ainda
Com açúcar e farinha
Poucos ovos, margarina
Tenho um número no meu nome
E os aplausos pedem bis
Se ainda não adivinharam
É porque o destino não quis.
Quem sou eu?
ADIVINHA Nº3
Tenho o nome de um bicho
Mas sei que bicho não sou
E um rabo bem comprido
Que um qualquer senhor me pôs
Eu não sou bailarina
Mas danço o dia inteiro
Tenho umbigo vermelho
E custo algum dinheiro
Passo o dia no tapete
Mas juro, não sou gato
Nem sequer cão sonolento
Nem vassoura, nem sapato
Se já sabem quem sou eu
Não digam a ninguém
Calados como o bicho
Que esta expressão contém.
Quem sou eu?
ADIVINHA Nº4
Sou como um lampião
E cheia sem alimento
Tenho quarto, mas não durmo
Sou peça do firmamento
Já me pisaram o rosto
Vieram no Deus da Luz
Número onze, e Diana
Minha irmã, que vos seduz
Sempre que há casamento
O fel é meu inimigo
Há doçura na viagem
O que acontece, não digo
As marés deixam-se ir
Sob minha influência
Sou amada por poetas
Mas também pela ciência.
Quem sou eu?
ADIVINHA Nº5
Estamos sempre em todo o lado
Se a luz não nos faltar
Se a escuridão nos chega
Não há como nos achar
Em dias de aguaceiro
Causamos sensação
Misturadas, somos muitas
Mas separadas já não.
Somos três, somos sete
Damos alegria à vida
Se a menina nos confunde
Pode acabar mal vestida
Uma tem a cor de um fruto,
Outra a de uma flor
Com uma derradeira rima
Vão achar-nos, sim senhor.
ADIVINHA Nº6
Eu tenho cinco filhos
Mas não lhes dou de comer
Gosto de os ver brincar
Para não adormecer.
Ando sempre em apertos
Desde a mais tenra idade
Há apertos e apertos
E os meus são de amizade
Sou a mãe de muitos gestos
Em mil comunicações
Usam-me a torto e direito
Para mostrar emoções
Ferramenta dos artistas
E de mil trabalhadores
Cozinheiros, massagistas
E até senhores doutores
Manuseiam tantos livros
E ainda não adivinharam?
Já vos disse quem sou eu
Se calhar, não repararam!
ADIVINHA Nº7
Eu morava numa casa
Com raízes e aves belas
Até que homens me cortaram
P’ra de mim fazer janelas
Guardo versos de poetas
E uma história de encantar
Fujo do fogo e da água
Mas gosto de viajar
Quando alguém brinca comigo
Posso ser um avião,
Uma bola ou um chapéu
Ou até um foguetão
Num escritório sou furada
E não me dou com o giz
Com bonecos de mil cores
Fico muito mais feliz
Vou ao vento, embalada,
Sem casa onde morar
Ou podem ter dó de mim
E vida nova me dar
Quem Sou Eu?"