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NEM SEMPRE OS PINHEIROS
SÃO VERDES
Oito contos de Natal e um desejo

Foi um prazer participar nesta antologia, a convite da Poética Edições e da sua editora, Virgínia do Carmo. O meu conto está muito bem acompanhado; surgiu num dia de chuva e foi escrito quase de chofre, o que não é habitual em mim.

Depois houve a auto-revisão, claro, onde se dão os inevitáveis cortes, acrescentos, alterações, até ficarmos o mais apaziguados possível com o resultado.Deixo aqui um excerto.

Nem sempre os pinheiros são verdes

Oito contos de Natal e um desejo

Vários autores

Género: Antologia de contos

Edição: Novembro de 2016

Páginas: 99

À venda nas livrarias Férin, Pó dos Livros e Ler Devagar (Lisboa), nos sites Poética Edições, Bertrand, Sítio do Livro, Wook, ou por correio electrónico: 

poeticaedicoes@gmail.com

Rafael já está aflito, querem ver que depois de todo o trabalho que teve não leva dinheiro que chegue? Mas o preço é aquele, a D. Piedade ensinou-lhe os números e o valor das moedas, são duas daquelas, não há engano e… então lembra-se. Percebe, finalmente, o que falta entregar ao senhor, além das moedas que já mostrou. Tantas vezes lhe ensinaram, no “Aguaceiro”, e ele insiste em deixar cair no esquecimento as três palavras mágicas.

− Se faz favor…

Será que era o que faltava? E se não for? Rafael já traz húmidos os olhos, nada mais guarda no interior dos bolsos, a não ser um pequeno cordel que usa para lançar o pião no pátio, ao pé da nespereira, mas há muito que o pião deu sumiço, enterrado algures num dos canteiros, por culpa da chuva constante, talvez rodopiando ainda vá, girando sempre, escavando a crosta terrestre até a centro da terra, para terminar a vida em breve combustão. Seja como for, já de pouco lhe serve o cordel, senão para o entrelaçar nos dedos quando está nervoso; por vezes aperta até ficar com a ponta dos dedos da cor do vinho que bebe o senhor padre, à hora do almoço, quando não está a emborcar o sangue de Cristo.

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